quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ESTUDO - DAVI E MICAL


Davi e Mical

“Então informaram a Davi, dizendo: O Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo quanto é dele, por causa da arca de Deus. Foi, pois, Davi, e com alegria fez subir a arca de Deus, da casa de Obede-Edom para a cidade de Davi. Quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, ele sacrificou um boi e um animal cevado. E Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava Davi cingido dum éfode de linho. Assim Davi e toda a casa de Israel subiam, trazendo a arca do Senhor com júbilo e ao som de trombetas. Quando entrava a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração. (…) Então Davi voltou para abençoar a sua casa; e Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com Davi, e disse: Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre um indivíduo qualquer. Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim de preferência a teu pai e a toda a sua casa, estabelecendo-me por chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, sim, foi perante o Senhor que dancei; e perante ele ainda hei de dançar. Também ainda mais do que isso me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado. E Mical, filha de Saul, não teve filhos, até o dia de sua morte.” (II Samuel 6:12-16,20-23)
Há muitas lições a serem tiradas dessa história, e para entendermos o seu significado, precisamos entender quem eram as personagens principais. Já vimos algo sobre Davi, como era um homem segundo o coração de Deus; mas precisamos ver também quem era Mical.
Mical era a filha mais nova de Saul (I Samuel 14:49). Ela foi dada por esposa a Davi, num estratagema de Saul para que ele morresse na mão dos filisteus, como vemos abaixo:
“Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi; sendo isto anunciado a Saul, pareceu bem aos seus olhos. E Saul disse: Eu lha darei, para que ela lhe sirva de laço, e para que a mão dos filisteus venha a ser contra ele. Pelo que Saul disse a Davi: com a outra serás hoje meu genro.” (I Samuel 18:20-21)
Quando Mical foi dada por esposa a Davi, ele já tinha se tornado famoso em Israel por suas vitórias militares, como vemos no texto abaixo:
“Sucedeu porém que, retornando eles, quando Davi voltava de ferir o filisteu, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, com tamboris, e com instrumentos de música. E as mulheres, dançando, cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares.” (I Samuel 18:6-7)
A fama de Davi suplantava a do rei Saul nessa época, e isso conquistou a atenção de muitas mulheres em Israel, incluindo a própria Mical. Fica razoavelmente claro pelo contexto que Mical havia se apaixonado pela fama de Davi, por aquilo que o fazia “diferente” dos outros homens; por sua habilidade militar e estratégica, que eram sem dúvida parte do que Davi era, mas não representavam em si mesmas tudo que ele era. Mical não amava, por exemplo, a humildade de Davi, como vemos no texto inicial deste estudo — e essa característica era o que fazia de Davi um homem segundo o coração de Deus, como também o que o fazia ter sucesso em todo o restante (I Samuel 18:14). Posteriormente, Mical foi dada como esposa por Saul a outro de seus homens (I Samuel 25:44).
Voltemos então ao texto inicial. A arca da aliança, símbolo da presença de Deus entre o Seu povo, finalmente voltava para Israel, depois de muito tempo em poder dos filisteus. Todo o povo, ao trazê-la de volta, celebrava com grande alegria; e o rei de Israel ia adiante deles, com a mesma alegria, com a mesma simplicidade, como parte do povo. Davi quis deixar claro que não era o rei trazendo a arca de volta, mas sim um homem do povo de Deus celebrando o retorno do símbolo maior da presença e aliança de Deus ao seu lugar de direito; assim sendo, ele se despiu das vestes reais, declarando assim que era um homem como qualquer outro, quando comparado ao Senhor; um servo do Senhor, mais que um rei.
Mical, no entanto, ao ver o rei reduzido ao que de fato era — apenas um homem — desprezou-o no seu coração. O fator motivador do desprezo de Mical fica claro na sua frase final para Davi: “como sem pejo se descobre um indivíduo qualquer”. Mical amava o rei, não o homem; amava a glória, não a humildade; amava o senhor, mas não o servo.
A resposta de Davi também mostrou o motivo das suas atitudes: “me humilharei aos meus olhos”. Davi se despiu de sua glória, de sua condição de rei, para declarar um simples fato: que ele era tão somente um servo, e que servia a Deus como rei de Israel; que ser rei não fazia dele um homem diferente ou melhor diante de Deus, mas que cabia a ele, como homem, aceitar sua pequenez diante de Deus, fosse qual fosse sua posição ou serviço diante de Deus ou dos homens. Foi Davi, afinal, que escreveu o seguinte salmo:
“Senhor, o meu coração não é soberbo, nem os meus olhos são altivos; não me ocupo de assuntos grandes e maravilhosos demais para mim. Pelo contrário, tenho feito acalmar e sossegar a minha alma; qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe, qual criança desmamada está a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre.” (Salmos 131:1-3)
Davi não chamou a atenção de Deus com seus pulos ou com sua dança “extravagante”, tampouco com sua posição nobre ou a grandeza de seus feitos. Como Abel, Davi ofereceu ao Senhor o que o Senhor queria:
“A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra.” (Isaías 66:2)
Qual o fim dessa história? Deus prometeu que estabeleceria o trono de Davi para sempre, e Ele cumpriu Sua palavra em Cristo, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. De fato, o que Davi ofereceu ao Senhor foi o exemplo de Cristo, pois isto é o que se diz do Filho de Davi:
“Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:5-8)
O que restou a Mical? Ela não teve filhos, até o dia da sua morte, e não há na Bíblia nem mais uma só menção a ela. Aquela que tanta amava a honra e a glória, teve as mesmas negadas por Deus. E por que isso foi assim?
“Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios, vigiai…” (I Pedro 5:5-8a)
Sigamos o exemplo de Davi; tenhamos em nós essa mesma humildade que foi achada nele, e mais que isso, o mesmo sentimento que houve também em nosso Senhor e Salvador; e assim acharemos em Deus (e Ele mesmo será) nossa glória e honra.
“Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gálatas 1:10)

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